Mensagem do Provedor à data dos 50 anos do seu falecimento (10 de Junho de 2014)
O Senhor Dr. Breda mais uma vez
É certo que noventa por cento das ocorrências da vida corrente, desaparecem da nossa memória ao fim de uns dias, semanas, meses e, já mais raramente, ao fim de uns anos se mantém na nossa ribalta mental. Outras há, contudo, que se mantém,
porventura com alguma “patine”, perdendo brilho com o decorrer dos decénios, mas sempre capazes de, a todo o momento serem chamadas e serem vividas pelas marcas que nos deixaram para sempre.
Há cinquenta anos que o Dr. Breda faleceu mas mantém-se entre nós, tantos foram os exemplos de abnegação, de competência, de vivência exemplar na sua conduta profissional, politica, de entrega aos que sofriam, com disponibilidade permanente para os socorrer sem olhar a cansaços.
O Dr. Breda tinha no seu consultório, um quadro de Pasteur com o seu retrato que, a ambos servia de lema de conduta e que dizia: não se pergunta a um doente (malheureux): de que país és tu? Diz-se-lhe. Tu sofres, isso é suficiente. Tu pertences-me e eu te aliviarei! Assinado Louis Pasteur! Copiei-o, ampliei-o e distribuí-o em vários locais por onde tenho trabalhado profissionalmente, especificamente no Hospital de Aveiro, no meu consultório, na Misericórdia em Águeda e Barrô.
Não convivi muito com ele dada a diferença de idades; eu a começar a vida clínica e o senhor Dr. Breda a abandoná-la, mas o suficiente para ver nele da luz que nos ilumina. São cinquenta anos passados mas parece que foi ontem que nos deixou. Perpetuamos-lhe a sua memória já denunciada em várias notas nos nossos semanários. Por ele, com ele e nele continuamos o trabalho da nossa Santa Casa da Misericórdia.
No dia 10 de Junho será de novo lembrado às 10:30h horas no cemitério onde repousa, seguido de celebração eucarística na sua casa que nos legou e onde está sempre vivo e sempre presente com mais uma placa alusiva à efeméride.
Por ele, esteja connosco nesse dia e sempre.
Nasceu no dia 27 de Abril de 1880, no Sardão, em casa dos seus avós maternos, filho do Dr. Mateus Pereira Pinto (segundo médico da SCMA), de Barrô, e de Mariana Márcia de Figueiredo Breda, do Sardão, neto paterno do Dr. António Joaquim Pereira Pinto (primeiro médico da SCMA?), de Barrô, e da Maria Emília Lemos Corte-Real e, neto materno de Manuel Rodrigues Breda, do Sardão, e de Maria Ludovina de Figueiredo Breda.
Frequentou, em Barrô, a escola primária e teve por professor José Agostinho, o primeiro professor do ensino primário desta aldeia.
Em 1890, com 10 anos de idade, fez o exame do 2º grau na escola Conde Ferreira, em Águeda. No ano seguinte matriculou-se no liceu e com certa dificuldade conseguiu aproveitamento. No 7º Ano, em 1897, aos 17 anos apresentou ao pai uma conta de despesas extraordinárias de 500 mil reis, durante o ano lectivo e ainda uma reprovação.
A desagradável notícia de um ano sem aproveitamento provocou no pai grande reacção perante a qual o filho, pedindo que o perdoasse, prometeu que não reprovaria mais. Desta data em diante foi um dos melhores alunos do seu curso, obtendo sempre elevadas classificações.
Frequentou a Escola Médica do Porto onde conquistou muita consideração e estima dos seus mestres pelo aprumo, pela análise apurada dos seus problemas, pela vibrante inteligência e pela eloquente palavra de mestre.
Concluiu o curso com elevada classificação, na citada escola médica, em 1905, e daí em diante fez da sua profissão um verdadeiro sacerdócio de bondade e fraternidade, ansiando sempre por um futuro melhor para todos os homens e, sobretudo, para o doente a quem se devotava de alma e coração.
Em 1922 tomou para si o encargo de dar nova orientação ao Hospital Conde Sucena onde desenvolveu um enorme esforço e dedicou um grande amor. Com desvelado carinho e todo o seu saber, criou uma elite de colaboradores de quem foi um verdadeiro e insigne mestre, conseguindo uma equipa que mereceu tal confiança no doente que, embora em tratamento em hospital de cidade, pedia e vinha ser tratado no Hospital de Águeda, considerado o melhor hospital de província do país e o terceiro centro cirúrgico nacional. Em 1927 foi-lhe dado o título de Clínico Honorário do Hospital da Lapa do Porto que, nessa altura, estaria a um dia de viagem. Convidado a ser professor da Faculdade de Medicina do Porto, recusou “…para não deixar a minha terra”.
Opositor do regime do Estado Novo, em 1955, foi condecorado pelo Ministro da Defesa Nacional, Santos Costa, pelos serviços prestados aos oficiais, praças e respectivas famílias da então Escola Central de Sargentos.
“…Radicou-se à sua aldeia de Barrô e aqui viveu sempre, abdicando das ostentações dos grandes meios que tantas vezes lhe foram oferecidas (professor da Faculdade, Ministro no partido Republicano, deputado, director do Hospital do Porto, etc.) e pelo seu temperamento e coração aberto ao infortúnio, dedicação sem reparo ao doente pobre ou rico, criou e conquistou posição firme de verdadeiro chefe da sua freguesia de Barrô e até do concelho, não só pelo indiscutível mérito, mas também por direito próprio…”.
Em 1931 casou, civilmente, com Madame Léa Émelin, natural de Puy de Dome, França (Madame Breda) e em 4 de Dezembro de 1963, religiosamente, no Hospital da Ordem do Carmo, no Porto.
Faleceu em 10 de Junho de 1964.
Comentários feitos em 1905 – quando tinha 25 anos – pelos seus colegas e que são premonitórios da categoria que viria a revelar como médico e como homem:
“Ao meu condiscípulo António Breda, bom amigo, carácter impoluto, como recordação dos tempos de estudante, com um abraço de despedida - Agnelo Miranda, Vila Real, 27.06.1905”
“Ao meu condiscípulo e amigo Breda, aborígene do Reino da Lua, mas belo de coração e inteligência perspicaz, oferece com um saudoso abraço de despedidas – António Maria Carvalho, Porto, 01.07.1907.”
“Ao Dr. António Breda, príncipe de Barrô, “tu cá tu lá” com o primaz de Braga, lugar-tenente do Conselheiro de Águeda e seus arredores, leão das salas de partos e de outras hortaliças de clínicas cirúrgicas, o maior “grulha” e rebelde das gerações académicas passadas, presentes e futuras - o que, com certeza, o não guindará à imortalidade de catedrático da nossa adorável Escola – ao amigo dedicadíssimo, ao primeiro cérebro do curso (não te babes, menino!) como prova da mais incondicional amizade, reconhecimento e admiração, com um abraço – Dr. José Sousa Guimarães, Caldas de Lijó, 20.07.1905, Barcelos.”
“Ao meu querido amigo Breda condiscípulo sincero como poucos, como prova de estima oferece o que se confessa amigo sincero – Porto 27.09.1905.”
“ Ao meu querido amigo distinto condiscípulo, carácter impoluto, espírito fulgurante, António Breda, com recordação da nossa sempre leal camaradagem e sincera amizade. Com um grande abraço – Joaquim Pereira de Sousa Ramos, Felgueiras, Junho 1906.”
“ Ao condiscípulo, Pinto Breda, possuidor das melhores qualidades de carácter e lealdade, em testemunho da minha admiração pelo seu talento e muito saber, oferece com um saudoso abraço de despedidas, o teu condiscípulo e muito amigo – André dos Santos, Vila do Conde, 26.06.1905.”